domingo, 28 de agosto de 2011

                      ESPIRITUALIDADE & EDUCAÇÃO                                                     [Por Paulo Barros]       

                Um dos aspectos mais relevantes nas práticas pedagógicas dos educadores holísticos é a valorização da espiritualidade. Contudo, eles não vêem a espiritualidade na acepção religiosa, mas como a vivência das qualidades intrínsecas do indivíduo, ou seja, seus “recursos naturais”, as “qualidades originais do eu”. Trata-se das qualidades positivas, as virtudes inerentes ao humano, e que são socialmente compartilhadas e desenvolvidas através do que pensamos, sentimos, falamos, fazemos e por meio dos nossos relacionamentos.  
            Espiritualidade, para Rafael Yus (2002, p. 19), é algo que conecta toda a vida, respeitando a diversidade na unidade e está relacionada à experiência de ser, de pertencer e de cuidar. “É sensibilidade e compaixão, devoção e esperança. É o sentido de encontro e reverência pelos mistérios do universo e um sentimento do sentido da vida. É um movimento em direção às mais altas aspirações do espírito humano”.
            Conforme Tillman e Colomina “é o espiritual que nos une em uma família global; é o espiritual que nos aproxima por trás dos véus das diferenças religiosas; é ele que vai nos permitir recapturar a compreensão do valor de toda pessoa, de toda cultura e toda religião”. Conforme as autoras, compreender a espiritualidade “é pensar nela como o seu mundo pessoal e interior de pensamentos e sentimentos”. No âmbito educacional, o objetivo de ensinar a espiritualidade “é ajudar os alunos a tomar consciência de sua natureza espiritual: suas qualidades naturais e inatas, por meio das quais eles podem levar uma vida mais plena e mais feliz” (TILLMAN & COLOMINA, 2004, p.70-72).
            De acordo com Strano (2008, p.21) a espiritualidade leva-nos ao “entendimento e à experiência da nossa existência holística enquanto seres humanos, ou conhecimento de que somos seres espirituais, bem como físicos, mentais e emocionais”. Uma educação espiritual verdadeira acrescenta o autor, “poderia ser descrita como: aprendizado com os outros; a integração com os outros; a contribuição para os outros” Esses quatro processos da educação estão, “em constante funcionamento, porém, só acontecem de uma forma que seja agradável e significativa quando os recursos espirituais do eu são ativados e usados criativamente”.
            Há diferentes formas de vivenciar a espiritualidade em nossas vidas. Em termos mais práticos, os educadores podem lanças mãos de técnicas como: relaxamento, visualização e meditação. Elas contribuem efetivamente para acessar as “qualidades originais” e desenvolver valores como a paz, o respeito, a tolerância, a cooperação, a concentração, a autoestima etc.
  Embora as técnicas de relaxamento, visualização e meditação apresentem diferenças em propósitos e experiências, são separadas, muitas vezes, por fronteiras tênues ou invisíveis, ou podem ser praticadas concomitantemente. Enquanto o relaxamento centra a consciência mais nos aspectos físicos (sentir e visualizar o corpo), a visualização e a meditação penetram mias profundamente na mente (pensamento e sentimento). Todas, mesmo que em intensidade diferente, conectam-nos às nossas qualidades positivas e contribuem para florescer a espiritualidade, visto que estabelecem a relação\conexão\separação intrínseca entre mente-corpo e promovem a concentração, a criatividade, o silêncio, o equilíbrio etc.
             Para Yus (2002, p. 202) as técnicas de relaxamento restabelecem a conexão mente-corpo e devem ser valorizadas e ensinadas pela educação holística dentro da educação do corpo. A prática consiste basicamente em exercícios de tomada de consciência do corpo e desenvolvimento da capacidade de controlá-lo em nosso benefício por meio de nossa mente. É uma forma de abrandar as tensões dos músculos afetados por emoções de medo, culpa, raiva, vingança etc., liberando as angústias.
            A visualização ou imaginação, relaxante para o corpo e a mente, vai mais além. Ela acessa, de forma mais profunda, a capacidade de imaginar e criar positivamente, desenvolvendo sentimentos e experiências que se espacem pelo e ambiente. Ela é um tipo específico de meditação que cria, em plano mental, uma série de imagens, objetivando uma experiência específica.
            Conforme Yus (p. 87 e 88) a visualização pode ser não-dirigida ou dirigida. Na visualização não-dirigida a experiência parte de poucas orientações gerais que dá margem para que uma sequência de imagens apareça. Elas são úteis para o processo criativo e em determinadas fases da resolução de conflitos. A visualização dirigida é usada para aumentar “os poderes receptivos do processo intuitivo”. Ela pode contribuir para a criatividade em aulas de História, Geografia, Artes etc., e quando atinge um grau que evoca fortes imagens visuais e recria um sentido de intimidade pessoal ela atinge a intuição.
            Dirigida ou não, a visualização permite aos estudantes criar o seu próprio padrão de imagens e deixar fluir a criatividade, os sentimentos e a intuição de forma particular. Isso é perceptível quando eles compartilham suas experiências, sentimentos e criatividade após a prática.
            Para Mike George a visualização associada à disciplina pode ser usada de várias formas para nos aproximar da paz mental.  Com ela “ficamos imersos no panorama da nossa imaginação e, à medida que fazemos isso, abandonamos as preocupações”. Também podemos usar a visualização criativa como “método para estabelecer metas (...) e assim, fortalecemos a motivação (...) trabalharmos nossos humores e percepções, explorando o poder de sugestão e os símbolos” (GEORGE, 1998, p. 38). Se praticada em nível mais profundo e contemplativo, ela traz à tona experiências significativas de paz e contentamento.
            A meditação é, dentre as técnicas mencionadas, a mais profunda em termos de experiência pessoal. Como já o dissemos, podemos diferenciar mais não dissociar as três práticas. A experiência da meditação, contudo, tem diferentes níveis. De acordo com Jayanti (2002, p. v), é um estado natural de ser. Conscientemente ou não, todos nós temos experiências meditativas de tempos em tempos: quando desfrutamos da nossa própria companhia, em solitude; quando somos puxados pelo que poderíamos chamar de devaneio; quando nós estamos absorvidos em observar a beleza da natureza; quando nós acordamos com alegria, ou antes de ir dormir, sentindo-se cuidado, seguro, confortável e protegido; quando ouvimos música ou quando o nosso coração emite amor e nos sentimos elevados.
            Meditar é, conforme diz o budismo, manter a mente tranqüila, reduzindo as elaborações mentais tumultuadas (YUS, 2002, p. 24). Em seu nível mais profundo, a meditação acessa a percepção da consciência espiritual, o entendimento efetivo dos nossos valores, os quais se tornam mais sensíveis e perceptíveis através do que pensamos, sentimos, falamos e agimos e nos relacionamos. Ela acessa, portanto, as qualidades originais do eu. Na meditação Raja Yoga, consiste em reunir as energias do pensamento e focá-las para a conexão com as nossas qualidades originais, não importando o que esteja acontecendo no exterior, ou até mesmo no interior. Significa entrar e reentrar no reservatório de paz sempre que precisarmos. “Esse exercício melhora o autocontrole e previne as explosões e reações de raiva que drenam as nossas forças” (STRANO, 2008, p. 25).
            A meditação, nos termos acima descritos, quando usada com estudantes tem se mostrado uma técnica efetiva para o silêncio mental, a calma, a paz e o reconhecimento das qualidades intrínsecas individuais, a reflexão sobre o papel de cada ser, nos relacionamentos interpessoais e no desenvolvimento de certa consciência de sermos uma família global que compartilhamos a mesma casa. Acessa a autoestima, a criatividade, a compaixão e a responsabilidade. É útil para levar os estudantes a usarem suas qualidades de respeito, perdão e diálogo no processo de resolução de conflitos. A meditação diminui as tensões, atenua as resistências, preconceitos, mágoas, timidez, raiva, sentimentos de vingança etc.
            Convém salientar que a prática da espiritualidade através dessas técnicas introspectivas não se configura como práticas religiosas específicas. São como afirma Yus (2002, p. 242) “exercícios psicológicos de autoconsciência e eficácia pessoal e relaxamento, ou (...) uma análise não partidária de diferentes tradições espirituais”. Obviamente que os educadores holísticos que assim agem, fazem em sala de aula o que fazem em sua vida pessoal. Contudo, nunca devem perder de vista a pluralidade e a diversidade representadas na sociedade e, em menor escala, na sala de aula. Nesse sentido, é apreciável deixar claro os objetivos pedagógicos das técnicas introspectivas para os estudantes e permitir que eles criem e processem sua criação silenciosa considerando suas práticas e crenças espirituais.

Referências

GEORGE, Mike. Learn to relax. London: Duncan Baird Plubishers, 1998.
JAYANTI, BK. God´s healing power: how meditation can help transform your life. London: Penguin Books, 2002.
STRANO, Anthony. Pensamento oriental para mente ocidental. São Paulo: Brahma Kumaris, 2008.
TILLMAN, Diane; COLOMINA, Pilar. Q. LVEP Educator Training Guide. New Delhi: Sterling Publishers, 2003.
TILLMAN, Diane; HSU, Diana. Atividades com valores para crianças de 3 a 6 anos. São Paulo: Brahma Kumaris, 2002.
YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Programa Vivendo Valores na Educação em Cabo Verde


      No mês de julho de 2011 as atividades do Programa Vivendo Valores na Educação- VIVE iniciaram-se em Cabo Verde, África. As atividades foram resultado da cooperação do Instituto Vivendo Valores- IVV e VIVE (Brasil), da colaboração de membros da Brahma Kumaris (Brasil e Portugal), da Fundação António Canuto e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, em Cabo Verde, da Senhora Artemisa Delgado, membro da Brahma Kumaris residente em Capo Verde e outras instituições e indivíduos. Graças a todos foi possível a realização de duas formações para educadores nas duas principais cidades do país (Paia e Mindelo) para 20 educadores cada.
      Também houve uma oficina sobre paz para crianças em uma escola pública  (Escola Hermann Gmeiner  - Praia) e duas oficinas sobre educação e valores humanos para jovens em Mindelo, uma no Centro de Protagonismo Juvenil para  23 cuidadores de crianças e outra para 14 jovens de uma bairro de periferia.
      As formações ocorreram em um clima de boas-vindas, amizade e gratidão, e baseada no sentimento e atitude  de Djunta Mon (Mãos juntas). Termo étnico, em criôlo cabo-verdiano, que designa e expressa o sentimento de cooperação para levar a cabo  algo que seja de interesse e bem coletivo.

      Ao final das atividades, um grupo de educadores ficou de fato interessado em continuar com as atividades do VIVE em Cabo Verde. Acreditamos que as instituições e os indivíduos envolvidos nesse processo poderão ser a força seminal para que, com a aprovação da ALIVE, seja mais um Ponto Focal do VIVE no mundo.


Mindelo
Praia
Mindelo
Mindelo
Praia

Jovens de Mindelo

Crianças da Praia

Educadora de Mindelo

Educador e artista da Praia
Estudante - Praia
Oficina sobre valores - Mindelo

Reflexão sobre disciplina e educação -Formação Vivendo Valores, Praia.

Formação - Mindelo
Grupo de Educadores - Praia


Isso é Cabo Verde.