domingo, 7 de dezembro de 2014

Educação e cultura de paz em unidades prisionais:  a experiência do programa VIVE na Escola Aloísio Leo Arlindo Lorscheider em Itaitinga – CE[1]


Paulo Sérgio Barros[2]
Francisca Valdelice Araújo do Vale
Raimundo Nonato Lima Filho

 

Paz é uma forma de consciência terna que visa a
Compreender e curar ao invés de julgar e condenar

Brahma Kumaris – Vivendo Nossos Valores.


            Entender e fazer a educação sob uma perspectiva holística tem sido iniciativas cada vez mais presentes, necessárias e aceitas entre educadores, escolas, e visivelmente permeia as propostas curriculares da educação básica. A educação holística, segundo Rafael Yus (2002, p. 21), “está interessada no crescimento de todas as potencialidades humanas: intelectual, emocional, social, física, artística/estética, criativa/intuitiva e espiritual”. Conforme esse autor, “uma das características que distingue a educação holística é o reconhecimento da dimensão espiritual da pessoa”. A espiritualidade, acrescenta, “significa incentivar os estudantes a envolver seu mundo com um sentimento de encanto pela análise, pelo diálogo, pela criatividade” (YUS, 2002, p. 109-115).
Para Tillman e Colomina (2004, p. 70-72) é o espiritual que nos une “em uma família global; é o espiritual que nos aproxima por trás dos véus das diferenças religiosas; é ele que vai nos permitir recapturar a compreensão do valor de toda pessoa, de toda cultura e toda religião”.  As autoras entendem que a espiritualidade é o “mundo pessoal e interior de pensamentos e sentimentos”. Portanto, também é objetivo da educação ensinar a espiritualidade, ou seja, “ajudar os alunos a tomar consciência de sua natureza espiritual: suas qualidades naturais e inatas, por meio das quais eles podem levar uma vida mais plena e mais feliz”.
Este artigo trata de uma experiência pedagógica em curso na Escola de Ensino Fundamental e Médio Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, em Itaitinga-CE, especificamente de uma formação para professores do Programa Vivendo Valores na Educação-VIVE[3] e de suporte e acompanhamento que tem acontecido junto à gestão, professores e estudantes da instituição. Os preceitos do VIVE baseiam-se essencialmente na espiritualidade e partem do princípio de que os valores são qualidades inerentes que podem ser desenvolvidas e compartilhadas por indivíduos e que portanto podem influenciar na criação de uma atmosfera de valores em ambientes educacionais para que os estudantes floresçam emocional, espiritual, social e cognitivamente.

A Escola Aloísio Leo Arlindo Lorshcheider e a sua política de educação

A referida escola é uma instituição estadual, localizada na BR 116, km 17, s/n, no bairro Pedras, município Itaitinga-CE, e está sob a área de abrangência da 1ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE 1) do estado do Ceará.  Foi criada pelo decreto nº 31.184, de 12 de abril de 2013, e atualmente atende 705 pessoas privadas de liberdade, matriculadas em quarenta e oito turmas, em trinta e quatro salas de aula, que funcionam dentro de dez unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza, ofertando a educação básica, da alfabetização ao ensino médio, na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A escola está alicerçada pelo ideal de transformar pessoas privadas de liberdade em estudantes dignos de uma educação humanizada. Com o objetivo de manifestar essa prática como um valor no contexto prisional, a instituição iniciou, desde outubro de 2013, um processo de ensino-aprendizagem baseado em valores propulsores da paz, através de um circuito de diálogos e vivências, com a participação de educadores e educandos, dispostos a aperfeiçoar as relações interpessoais dentro e fora da sala de aula, tomando como referência teórico-metodológica do programa VIVE.
               Tillman (2014) considera que programas de reabilitação são essenciais para aqueles que estão “encarcerados”. Eles são um componente importante para ajudar as pessoas a recuperar o bem-estar e a capacidade de reinserção social. No entanto, para os programas de reabilitação serem bem sucedidos, afirma ela, é preciso educar para além das competências técnicas que permitem que as pessoas estejam empregadas. Educação para reabilitação e reinserção social, significa restaurar o indivíduo a um estado de saúde integral, estabelecer um sistema educacional que cuide do ser holisticamente. Embora isso possa não ser possível para aqueles que já estão severamente “perturbados” e “danificados”, afirma Tillman, “certamente a grande maioria pode reacender os valores humanos e as competências emocionais e sociais que lhes permitam integrar-se na sociedade com respeito, confiança e propósito”.
            Apesar da existência de material específico e uma formação VIVE mais adequada às unidades prisionais, a formação desenvolvida na referida escola foi a mesma formatada pelo programa para a educação básica regular, ou seja, para a educação infantil, fundamental e média[4]. Obviamente que direcionada para professores que trabalham com estudantes jovens e adultos privados de liberdade.
Por essa razão, antes do curso os formadores do VIVE reuniram-se com a gestão da escola para conhecer previamente o ethos e as necessidades da instituição, bem como as expectativas da escola sobre a formação. Partindo desse diálogo inicial, decidiu-se por contemplar os seguintes módulos: consciência de valores, criação de uma atmosfera de valores, a prática da escuta ativa e a resolução de conflitos, os preceitos teóricos e metodológicos do VIVE para a criação dessa atmosfera em sala de aula e a disciplina baseada em valores. Essas seriam permeadas por algumas oficinas nas quais os educadores pudessem vivenciar seus valores e criar atividades com valores para aplicar em sala de aula.

A atmosfera de valores e o suporte conceitual do VIVE

     Toda a formação do VIVE fundamenta-se na criação de uma atmosfera de valores, a qual parte do reconhecimento de que os estudantes necessitam de habilidades que considerem seu desenvolvimento cognitivo, emocional e espiritual para serem capazes de apreciar e comprometerem-se com os valores e desenvolverem habilidades sociais, discernimento cognitivo e entendimento para levarem esses valores consigo em suas vidas (TILLMAN, 2014b, p. 01).
     Essa atmosfera ajuda aos estudantes a pensar e a refletir sobre valores e suas implicações práticas em relação a si, aos outros e ao mundo; aprofunda o entendimento, a motivação e a responsabilidade para fazer escolhas pessoais e sociais positivas; inspira-os a escolher seus próprios valores pessoais, sociais e espirituais e a estarem cientes de métodos práticos para desenvolvê-los e aprofundá-los; e encoraja educadores a ver a educação como provedora de uma filosofia de vida, que facilita seu crescimento geral, desenvolvimento e escolhas, de modo que se integrem na comunidade com respeito, segurança e propósito (TILLMAN & COLOMINA, 2003, p. 211).
        No curso de formação VIVE para educadores a atmosfera de valores é uma experiência efetiva durante todo o processo. No módulo Consciência de Valores os participantes vivenciam seus valores, refletem sobre o desenvolvimento de valores com estudantes e pensam sobre os seus valores como educadores. A atmosfera de valores é vivenciada através de técnicas de visualização, socialização de experiências educativas, criação de atividades e o estudo da teoria e da metodologia do VIVE. Os módulos posteriores tratam das habilidades básicas para desenvolver uma atmosfera de valores: reconhecimento, incentivo e a construção de comportamentos positivos, questões abertas e escuta ativa, transição para uma disciplina baseada em valores e resolução de conflitos. Sempre intercaladas com oficinas de criação de atividades com valores. Ao final, o grupo avalia o ethos da instituição e planeja atividades com valores para inserir no currículo escolar.
             Para as principais autoras do VIVE (TILLMAN & COLOMINA, 2003, p. 80) um ambiente permeado por valores é afetivo e positivo para o desenvolvimento e a aprendizagem. Os estudantes sentem-se amados, respeitados, ouvidos, valorizados e seguros e desenvolvem habilidades pessoais, sociais e emocionais.
As autoras consideram que quando a motivação e o controle são feitos através do medo, da vergonha e da punição, os estudantes sentem-se inadequados, medrosos, magoados, envergonhados e inseguros. Essas emoções marginalizam os estudantes, diminuindo seu interesse pela aprendizagem, conduzindo-os a uma série de relacionamentos negativos que os fazem tornarem-se deprimidos, ou entrarem em um ciclo de culpa, raiva, vingança e possível violência. (TILLMAN, 2014b, p. 02).  Portanto, o VIVE oferece meios para examinar os ciclos de inadequação, mágoa, medo, resistência, culpa e raiva, a fim de eliminá-los e de melhorar a qualidade do ensino e promover o desenvolvimento das capacidades emocionais e sociais positivas do estudante por meio da familiaridade com os valores universais (TILLMAN & COLOMINA, 2004, p. 80).
               
Sentimentos e percepções dos diferentes atores da formação

            A análise do impacto da formação VIVE entre os professores baseou-se na observação e convivência destes com os facilitadores (autores deste artigo) e na avaliação do processo de criação e interação durante toda a formação. Contudo, os facilitadores também muniram-se de dois instrumentais de avaliação. O primeiro foi aplicado no módulo final, através do qual eles avaliavam o ethos escolar, reconhecendo os aspectos positivos e negativos, propondo ações pedagógicas para fortalecer o que é positivo e diminuir os efeitos negativos no processo pedagógico da escola, em consonância com uma política de educação holística fundamentada na metodologia do VIVE.
            A visão apresentada pelos educadores, conforme suas avaliações, é, em geral positiva. Para eles alguns valores como a amizade, a solidariedade, o respeito, a confiança, o diálogo, o compromisso, e a cooperação são bastante relevantes na escola. Reforçam que há um envolvimento efetivo da gestão para a prática de uma educação humanizada, focando-se na qualidade da aprendizagem, na interação entre professores e estudantes e no fortalecimento do trabalho em grupo.
            Outro aspecto considerado positivo na escola é os projetos levados a cabo nas áreas de saúde, educação ambiental e educação em valores humanos, todos focalizados “na humanização e na libertação do ser humano”, ou seja, na ressocialização do educando, fundamentado na pedagogia dialógica de Paulo Freire, conforme avaliaram alguns grupos em seus instrumentos de apreciação.
            Contudo, ao responderem os formulários de avaliação e planejamento os professores apresentaram alguns pontos que consideram negativos, estorvos para a proposta pedagógica da escola. Dentre eles há destaque para o acesso dos estudantes à escola, ou seja, uma prática dissonante entre os professores e os agentes prisionais no que tange à interação com os estudantes. Há também problemas de infraestrutura (desconforto e insegurança), escassez de material didático e equipamentos tecnológicos; desvalorização profissional (contratação temporária e insalubridade), quantitativo de estudantes por sala, rotatividade dos internos, tempo de aula reduzido e uma visão depreciadora da educação praticada no interior das unidades prisionais.
            Para superar os pontos negativos supracitados os professores sugerem uma gama de ações, a saber, formação continuada direcionada para educadores do sistema prisional, educação fundamentada em valores humanos, políticas públicas educacionais voltadas para a educação das unidades prisionais, maior apoio da direção das unidades prisionais, valorização profissional e melhoria das condições materiais e pedagógicas nos locais de trabalho.
            No instrumental utilizado para que os cursistas avaliassem a formação, a mesma foi ressaltada como de fundamental importância e que a metodologia do VIVE passasse a ser uma prática pedagógica constante e cotidiana na política educacional da escola. Os professores avaliaram todos os módulos da formação como relevantes. Contudo, dois deles mereceram destaques: Consciência de valores e Escuta ativa.
Para o primeiro deles os professores destacaram o aspecto vivencial e introspectivo que lhes proporcionou a percepção de seus valores de paz, respeito e harmonia, bem como deu-lhes o entendimento mais profundo e a experiência de como isso pode afetar os ambientes no sentido de criar uma atmosfera de valores em seus ambientes de trabalho. Como uma das premissas do VIVE a atmosfera de valores é criada quando em ambientes há interações com sentimentos de respeito, amor, compreensão, segurança e valorização (TILLMA & COLOMINA, 2004, p. 79-80).  Barros (2012), Barros e Barreira (2010b) e Pereira (2009) observaram isso quando usavam atividades com valores e técnicas introspectivas em suas salas de aula. Eles perceberam que não somente diminuíram os conflitos, mas passou a haver mais diálogo, progresso nas atividades pedagógicas e mais apreço pelas aulas. Os formadores vivenciam essa atmosfera de valores com o grupo durante todo o processo. O módulo consciência de valores é o mais propício à essa experiência. A avaliação dos educadores da escola em questão atestou a efetividade da vivência desses sentimentos para uma atmosfera frutífera para a educação e bons relacionamentos.
No que concerne ao módulo Escuta ativa, a avaliação não foi menos relevante. Escutar e entender a mensagem de quem compartilha, compreendê-la com o coração e com compaixão, independentemente de concordar ou não com o que expressa e sente o emissor, parece ser algo raramente possível para a maioria de nós. A atmosfera de valores proposta pelo VIVE tece muitas possibilidades, quer durante a formação para educadores, quer no processo cotidiano de sala de aula, enquanto se pratica atividades com valores. As discussões, o compartilhar de experiências, as vivências e os exercícios oferecidos nessa sessão, propõem aos educadores possibilidades e exercícios de escuta que raramente lhes são proporcionados ou estão ausentes de suas práticas pessoais de solitude, introspecção etc.
A escuta é muito mais que decodificar a mensagem verbal de quem fala. É praticar a flexibilidade, a aceitação e o reconhecimento. Para Tillman e Colomina (2004, p. 109) a aceitação e o reconhecimento das respostas dos estudantes é um componente essencial de muitas discussões que são feitas como parte das atividades com valores. Isso conduz a professores e estudantes a irem além de respostas certas e erradas e aceitar e entender o sentimento de quem fala, o que proporciona aos estudantes a tomarem a direção de percepções, emoções e comportamentos mais positivos e saudáveis.
Freire (1996, p. 119-120) deu atenção especial à escuta na prática educacional. Ele ressalta que escutar é algo que vai além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para abertura à fala do outro, ao gosto do outro, às diferenças do outro, sem que se exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. 
A escuta abre possibilidades para o entendimento, a apreciação, a descoberta; para lapidar os excessos e processar o que nos é supérfluo e incômodo. Da mesma forma, podemos entender o outro. O resultado é uma atmosfera de valores cuja energia é o diálogo, a aceitação, o respeito etc. A prática da escuta é de importância seminal para superar conflitos. Ao escutar o outro com o coração, entendendo os seus sentimentos, estamos abertos para a humildade, o perdão, a paciência.
Os benefícios de uma escuta verdadeira, mesmo que parcial, durante a formação, foi algo real e proporcionou ao grupo de educadores reflexões sobre sua prática cotidiana de ser humano, de educador, e em relação consigo, com o outro e, sobretudo com seus alunos.

Considerações finais

Ao término da formação observamos um fortalecimento nos propósitos da instituição e do grupo de professores no que concerne à política pedagógica em prática na escola. Os professores sentiram-se à vontade   para socializar os sentimentos de conquistas nas diversas metodologias aplicadas e nas temáticas inovadoras do curso, até então desconhecidas pela grande maioria do grupo.
Para alguns o aprendizado maior foi através da escuta ativa, para outros a mediação de conflitos e ainda pelo estabelecimento de regras para uma sala de aula cooperativa, de forma que todos apontaram a formação como de grande relevância para o engrandecimento pessoal e profissional de cada um em particular e da educação como um todo.
            Um ponto marcante que apreciamos e observamos na avaliação final, foi a melhoria da autoestima dos professores. No decorrer do curso os mesmos foram mudando seus posicionamentos, assumindo seus aprendizados, socializando aplicações   de atividades em suas salas de aula, enfatizando o diferencial das metodologias dos trabalhos em grupo, como alternativas inovadoras para serem desenvolvidas na escola.
            Outro ponto observado foi a   carência de formação continuada para os professores em evidência, uma vez que os mesmos trabalham em unidades prisionais que requerem uma atenção diferenciada da escola formal regular. No decorrer dos diálogos traçados durante o curso, sentimos a necessidade de um olhar mais focado para os professores por parte da Secretária Estadual de Educação, de um acompanhamento psicológico individualizado e em grupo.
Enfim, ficou uma sensação de falta de cuidado com os professores que carecem de serem escutados, de serem atendidos em suas especificidades psicopedagógicas e trabalhistas, já que a grande maioria é de professores terceirizados, que além das peculiaridades negativas advindas das unidades prisionais, ficam à mercê da descontinuidade de permanência nas referidas unidades de trabalho.
A avaliação da gestão da escola, após um período de quase um ano (outubro de 2013 a setembro de 2014) de reflexões e práticas pedagógicas fundamentadas em valores sob a perspectiva do VIVE é positiva. A instituição avalia como progressiva a capacidade que atualmente apresenta em mediar, com pacificidade, diálogo e compreensão, os conflitos que emergem da interação entre os seus educadores, educandos e agentes penitenciários, procurando tornar predominantemente pedagógicas as relações entre todos.
A natureza da escola (que atende diferentes unidades prisionais em vários municípios) e a rotatividade dos professores apresentam-se como alguns empecilhos para uma atividade constante e cotidiana. Contudo, há por parte da gestão o compromisso com uma educação humanizada.
Como citado na introdução, o curso é parte da formação continuada dos professores da escola. No planejamento das ações estão inclusas ações de suporte e acompanhamento com palestras, oficinas e vivências, bem como algumas atividades desenvolvidas em sala de aula com os estudantes. Contudo, vale salientar que é imperativo que os próprios educadores desenvolvam atividades com seus estudantes, com frequência. Acreditamos que eles, ao desenvolverem essas atividades de forma constante, consistente e cotidiana, através das oficinas propostas pelo  material didático do VIVE, atividades criadas por eles mesmos e estudantes; assim como a prática do reconhecimento, incentivo e construção de comportamentos positivos, a resolução de conflitos com valores e o lidar com a disciplina objetivando vivenciar valores e não o controle e a punição nas práticas cotidianas de sala de aula, eles estarão criando um  ambiente de vivência de valores.
Por ocasião da visita de formadores do VIVE para uma oficina na Unidade Prisional Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II, para 43 estudantes jovens e adultos, percebeu-se que os professores que ali trabalham têm uma prática educacional humanizada. A interação com os estudantes, os sentimentos de gratidão que estes expressavam e suas interações durante a atividade atestaram isso. Ainda que vivam privados de sua liberdade, em uma sala de aula no seio de uma prisão, apresentando pontos de vista antagônicos no que tange ao direcionamento pedagógico entre professores e agentes prisionais, eles demostraram uma vontade genuína de aprender, de relacionar-se com amizade e respeito e de querer aprender e vivenciar seus valores e compartilhá-los com os demais.
Contudo, cremos que o planejamento da gestão da escola objetivando uma formação continuada em educação e valores humanos pode vir a envolver todos os educadores, todas as salas de aulas em todas as unidades prisionais. Essa possibilidade certamente trará, mais do que uma formação pedagógica, o cuidar do processo cognitivo dos estudantes. Trará também uma relação mais humanizada e respeitosa de seres que vivem em um espaço passível de muitas formas de cerceamento: físico, emocional, social, cognitivo etc. A educação baseada em valores certamente contribuirá para que os estudantes tenham a liberdade de viver sentimentos de aceitação, momentos de interações positivas e esperanças e sonhos de uma vida melhor durante o tempo que passarão na unidade prisional, sobretudo no tempo que estão em sala de aula com seus colegas e educadores.

Referências

BARROS, Paulo Sérgio; BARREIRA, Lilia Cristian. Princípios para um mundo sustentável: a educação fundamentada em valores. In: MATOS, Kelma S. L. (Org.). Cultura de Paz, ética e espiritualidade III. Fortaleza: Edições UFC, 2012.

BARROS. Paulo Sérgio. Vivendo Valores na Educação: a experiência da dimensão afetiva do indivíduo na sala de aula. In: Revista E.T.C Educação, Tecnologia e Cultura. Salvador, ano 6, n. 5, p. 7-11, jan/dez. 2008.     

_____________. Educação, cidadania e espiritualidade: uma experiência no cotidiano da sala de aula. In: BARROS, Paulo Sérgio; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos no Brasil: trajetórias, caminhos e registros do Programa Vivendo Valores na Educação. São Paulo: Editora Brahma Kumaris, 2009a.

_____________. Educação e cultura para a paz: uma experiência na Escola Maria José Medeiros em Fortaleza. In: SANTOS. Francisco Kennedy Silva dos (Org.). II Colóquio Abrindo trilhas para os Saberes: Formação Humana, Cultura, Diversidade. Fortaleza: SEDUC, 2009b.           

_____________. Atmosfera de Valores: o princípio do Programa Vivendo Valores na Educação. IN: MATOS, Kelma S. L.; NONATO JÚNIOR, Raimundo (Orgs.). Cultura de Paz, ética e espiritualidade. Fortaleza: Edições UFC, 2010.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KUMARIS, Brahma. Vivendo nossos valores: uma abordagem “de dentro para fora” para tornar seu mundo melhor. São Paulo: Brahma Kumaris, 2014.

PEREIRA, Osivânia Maria. Q. Vivenciando valores na sala de aula: uma experiência na escola Maria José Medeiros em Fortaleza. In: BARROS, Paulo S; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos no Brasil: trajetórias, caminhos e registros do Programa Vivendo Valores na Educação. São Paulo: Editora Brahma Kumaris, 2009.

TILLMAN, Diane; COLOMINA, Pilar. Quera. Guia de capacitação do educador. São Paulo: Confluência, 2004.
TILLMAN, Diane. Atividades com valores para jovens. São Paulo: Confluência, 2005.
___________.Living Values Activities for Young Offenders. Disponível em: http://www.livingvalues.net/LVAYO.html#materials. Acesso em: 23 set. 2014a.
___________. TILLMAN, Diane. Theorical Background and Support for Living Values: An Educational Program. Disponível em: <http://www.livingvalues.net/pdf/lvTheoricalBackgoundandSupport.pdf>. Acesso em: 25 set. 2014.
YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.



[1] Artigo publicado em: MATOS, Kelma Socorro Lopes de (Org.). Cultura de paz, educação e espiritualidade. Fortaleza: edições UFC, 2015.
[2] Os autores do artigo são professores da Secretaria de Educação do Ceará e voluntários do Programa VIVE.
[3] O VIVE foi desenvolvido em consultoria com o Clausto de Educação do UNICEF e  Organização Brahma Kumaris, em 1996. É coordenado pela Association for Living Values International – ALIVE, apoiado pela UNESCO e por uma variedade de organizações, instituições e indivíduos em mais de 60 países. Visite: www.livingvalues.net.
[4] O VIVE também desenvolve atividades para crianças e jovens em situação de risco: Vivendo valores para refugiados e afetados por guerra, Vivendo valores para crianças de rua, Vivendo valores para reabilitação do uso de drogas e Vivendo valores para jovens delinquentes. Há também Vivendo valores para pais e cuidadores e Vivendo valores verdes, uma série de material com atividades para educação ambiental e sustentabilidade.