Educação e cultura de paz em unidades prisionais: a experiência do programa VIVE na Escola
Aloísio Leo Arlindo Lorscheider em Itaitinga – CE[1]
Paulo Sérgio Barros[2]
Francisca Valdelice Araújo do Vale
Raimundo Nonato Lima Filho
Paz é uma forma de consciência terna que
visa a
Compreender e curar ao invés de julgar e
condenar
Brahma Kumaris – Vivendo Nossos Valores.
Entender
e fazer a educação sob uma perspectiva holística tem sido iniciativas cada vez
mais presentes, necessárias e aceitas entre educadores, escolas, e visivelmente
permeia as propostas curriculares da educação básica. A educação holística,
segundo Rafael Yus (2002, p. 21), “está interessada no crescimento de todas as
potencialidades humanas: intelectual, emocional, social, física,
artística/estética, criativa/intuitiva e espiritual”. Conforme esse autor, “uma
das características que distingue a educação holística é o reconhecimento da
dimensão espiritual da pessoa”. A espiritualidade, acrescenta, “significa
incentivar os estudantes a envolver seu mundo com um sentimento de encanto pela
análise, pelo diálogo, pela criatividade” (YUS, 2002, p. 109-115).
Para Tillman e Colomina
(2004, p. 70-72) é o espiritual que nos une “em uma família global; é o
espiritual que nos aproxima por trás dos véus das diferenças religiosas; é ele
que vai nos permitir recapturar a compreensão do valor de toda pessoa, de toda
cultura e toda religião”. As autoras
entendem que a espiritualidade é o “mundo pessoal e interior de pensamentos e
sentimentos”. Portanto, também é objetivo da educação ensinar a espiritualidade,
ou seja, “ajudar os alunos a tomar consciência de sua natureza espiritual: suas
qualidades naturais e inatas, por meio das quais eles podem levar uma vida mais
plena e mais feliz”.
Este artigo trata de uma
experiência pedagógica em curso na Escola de Ensino Fundamental e Médio Aloísio
Leo Arlindo Lorscheider, em Itaitinga-CE, especificamente de uma formação para
professores do Programa Vivendo Valores na Educação-VIVE[3] e de
suporte e acompanhamento que tem acontecido junto à gestão, professores e
estudantes da instituição. Os preceitos do VIVE baseiam-se essencialmente na
espiritualidade e partem do princípio de que os valores são qualidades
inerentes que podem ser desenvolvidas e compartilhadas por indivíduos e que
portanto podem influenciar na criação de uma atmosfera de valores em ambientes
educacionais para que os estudantes floresçam emocional, espiritual, social e
cognitivamente.
A Escola Aloísio Leo Arlindo Lorshcheider e a sua
política de educação
A referida escola é uma instituição estadual, localizada na BR 116,
km 17, s/n, no bairro Pedras, município Itaitinga-CE, e está sob a área de
abrangência da 1ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE
1) do estado do Ceará. Foi criada pelo
decreto nº 31.184, de 12 de abril de 2013, e atualmente atende 705 pessoas privadas de liberdade,
matriculadas em quarenta e oito turmas, em trinta e quatro salas de aula, que
funcionam dentro de dez unidades prisionais da Região Metropolitana de
Fortaleza, ofertando a educação básica, da alfabetização ao ensino médio, na
modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A escola está alicerçada
pelo ideal de transformar pessoas privadas de liberdade em estudantes dignos de
uma educação humanizada. Com o objetivo de manifestar essa prática como um
valor no contexto prisional, a instituição iniciou, desde outubro de 2013, um
processo de ensino-aprendizagem baseado em valores propulsores da paz, através
de um circuito de diálogos e vivências, com a participação de educadores e
educandos, dispostos a aperfeiçoar as relações interpessoais dentro e fora da
sala de aula, tomando como referência teórico-metodológica do programa VIVE.
Tillman (2014) considera que programas de reabilitação
são essenciais para aqueles que estão “encarcerados”. Eles são um componente
importante para ajudar as pessoas a recuperar o bem-estar e a capacidade de
reinserção social. No entanto, para os programas de reabilitação serem bem
sucedidos, afirma ela, é preciso educar para além das competências técnicas que
permitem que as pessoas estejam empregadas. Educação para reabilitação e reinserção
social, significa restaurar o indivíduo a um estado de saúde integral,
estabelecer um sistema educacional que cuide do ser holisticamente. Embora isso
possa não ser possível para aqueles que já estão severamente “perturbados” e “danificados”,
afirma Tillman, “certamente a grande maioria pode reacender os valores humanos
e as competências emocionais e sociais que lhes permitam integrar-se na
sociedade com respeito, confiança e propósito”.
Apesar
da existência de material específico e uma formação VIVE mais adequada às
unidades prisionais, a formação desenvolvida na referida escola foi a mesma
formatada pelo programa para a educação básica regular, ou seja, para a
educação infantil, fundamental e média[4].
Obviamente que direcionada para professores que trabalham com estudantes jovens
e adultos privados de liberdade.
Por essa razão, antes do
curso os formadores do VIVE reuniram-se com a gestão da escola para conhecer previamente
o ethos e as necessidades da instituição,
bem como as expectativas da escola sobre a formação. Partindo desse diálogo
inicial, decidiu-se por contemplar os seguintes módulos: consciência de
valores, criação de uma atmosfera de valores, a prática da escuta ativa e a
resolução de conflitos, os preceitos teóricos e metodológicos do VIVE para a
criação dessa atmosfera em sala de aula e a disciplina baseada em valores.
Essas seriam permeadas por algumas oficinas nas quais os educadores pudessem
vivenciar seus valores e criar atividades com valores para aplicar em sala de
aula.
A atmosfera de valores e o suporte conceitual do VIVE
Toda a formação do VIVE fundamenta-se na
criação de uma atmosfera de valores, a qual parte do reconhecimento de que os
estudantes necessitam de habilidades que considerem seu desenvolvimento cognitivo,
emocional e espiritual para serem capazes de apreciar e comprometerem-se com os
valores e desenvolverem habilidades sociais, discernimento cognitivo e
entendimento para levarem esses valores consigo em suas vidas (TILLMAN, 2014b,
p. 01).
Essa atmosfera ajuda aos estudantes a
pensar e a refletir sobre valores e suas implicações práticas em relação a si,
aos outros e ao mundo; aprofunda o entendimento, a motivação e a
responsabilidade para fazer escolhas pessoais e sociais positivas; inspira-os a
escolher seus próprios valores pessoais, sociais e espirituais e a estarem
cientes de métodos práticos para desenvolvê-los e aprofundá-los; e encoraja
educadores a ver a educação como provedora de uma filosofia de vida, que
facilita seu crescimento geral, desenvolvimento e escolhas, de modo que se
integrem na comunidade com respeito, segurança e propósito (TILLMAN &
COLOMINA, 2003, p. 211).
No curso de formação VIVE para
educadores a atmosfera de valores é uma experiência efetiva durante todo o
processo. No módulo Consciência de
Valores os participantes vivenciam seus valores, refletem sobre o
desenvolvimento de valores com estudantes e pensam sobre os seus valores como
educadores. A atmosfera de valores é vivenciada através de técnicas de visualização,
socialização de experiências educativas, criação de atividades e o estudo da
teoria e da metodologia do VIVE. Os módulos posteriores tratam das habilidades
básicas para desenvolver uma atmosfera de valores: reconhecimento, incentivo e
a construção de comportamentos positivos, questões abertas e escuta ativa,
transição para uma disciplina baseada em valores e resolução de conflitos.
Sempre intercaladas com oficinas de criação de atividades com valores. Ao
final, o grupo avalia o ethos da
instituição e planeja atividades com valores para inserir no currículo escolar.
Para as principais autoras do VIVE (TILLMAN
& COLOMINA, 2003, p. 80) um ambiente permeado por valores é afetivo e
positivo para o desenvolvimento e a aprendizagem. Os estudantes sentem-se
amados, respeitados, ouvidos, valorizados e seguros e desenvolvem habilidades
pessoais, sociais e emocionais.
As autoras consideram que
quando a motivação e o controle são feitos através do medo, da vergonha e da
punição, os estudantes sentem-se inadequados, medrosos, magoados, envergonhados
e inseguros. Essas emoções marginalizam os estudantes, diminuindo seu interesse
pela aprendizagem, conduzindo-os a uma série de relacionamentos negativos que
os fazem tornarem-se deprimidos, ou entrarem em um ciclo de culpa, raiva,
vingança e possível violência. (TILLMAN, 2014b, p. 02). Portanto, o VIVE oferece meios para examinar
os ciclos de inadequação, mágoa, medo, resistência, culpa e raiva, a fim de
eliminá-los e de melhorar a qualidade do ensino e promover o desenvolvimento
das capacidades emocionais e sociais positivas do estudante por meio da
familiaridade com os valores universais (TILLMAN & COLOMINA, 2004, p. 80).
Sentimentos e percepções dos diferentes atores da formação
A
análise do impacto da formação VIVE entre os professores baseou-se na
observação e convivência destes com os facilitadores (autores deste artigo) e
na avaliação do processo de criação e interação durante toda a formação.
Contudo, os facilitadores também muniram-se de dois instrumentais de avaliação.
O primeiro foi aplicado no módulo final, através do qual eles avaliavam o ethos escolar, reconhecendo os aspectos
positivos e negativos, propondo ações pedagógicas para fortalecer o que é
positivo e diminuir os efeitos negativos no processo pedagógico da escola, em
consonância com uma política de educação holística fundamentada na metodologia
do VIVE.
A
visão apresentada pelos educadores, conforme suas avaliações, é, em geral
positiva. Para eles alguns valores como a amizade, a solidariedade, o respeito,
a confiança, o diálogo, o compromisso, e a cooperação são bastante relevantes
na escola. Reforçam que há um envolvimento efetivo da gestão para a prática de
uma educação humanizada, focando-se na qualidade da aprendizagem, na interação
entre professores e estudantes e no fortalecimento do trabalho em grupo.
Outro
aspecto considerado positivo na escola é os projetos levados a cabo nas áreas
de saúde, educação ambiental e educação em valores humanos, todos focalizados
“na humanização e na libertação do ser humano”, ou seja, na ressocialização do
educando, fundamentado na pedagogia dialógica de Paulo Freire, conforme
avaliaram alguns grupos em seus instrumentos de apreciação.
Contudo,
ao responderem os formulários de avaliação e planejamento os professores apresentaram
alguns pontos que consideram negativos, estorvos para a proposta pedagógica da
escola. Dentre eles há destaque para o acesso dos estudantes à escola, ou seja,
uma prática dissonante entre os professores e os agentes prisionais no que
tange à interação com os estudantes. Há também problemas de infraestrutura
(desconforto e insegurança), escassez de material didático e equipamentos
tecnológicos; desvalorização profissional (contratação temporária e
insalubridade), quantitativo de estudantes por sala, rotatividade dos internos,
tempo de aula reduzido e uma visão depreciadora da educação praticada no
interior das unidades prisionais.
Para
superar os pontos negativos supracitados os professores sugerem uma gama de ações,
a saber, formação continuada direcionada para educadores do sistema prisional,
educação fundamentada em valores humanos, políticas públicas educacionais
voltadas para a educação das unidades prisionais, maior apoio da direção das
unidades prisionais, valorização profissional e melhoria das condições
materiais e pedagógicas nos locais de trabalho.
No
instrumental utilizado para que os cursistas avaliassem a formação, a mesma foi
ressaltada como de fundamental importância e que a metodologia do VIVE passasse
a ser uma prática pedagógica constante e cotidiana na política educacional da
escola. Os professores avaliaram todos os módulos da formação como relevantes.
Contudo, dois deles mereceram destaques: Consciência
de valores e Escuta ativa.
Para o primeiro deles os
professores destacaram o aspecto vivencial e introspectivo que lhes
proporcionou a percepção de seus valores de paz, respeito e harmonia, bem como
deu-lhes o entendimento mais profundo e a experiência de como isso pode afetar
os ambientes no sentido de criar uma atmosfera de valores em seus ambientes de
trabalho. Como uma das premissas do VIVE a atmosfera de valores é criada quando
em ambientes há interações com sentimentos de respeito, amor, compreensão,
segurança e valorização (TILLMA & COLOMINA, 2004, p. 79-80). Barros (2012), Barros e Barreira (2010b) e
Pereira (2009) observaram isso quando usavam atividades com valores e técnicas
introspectivas em suas salas de aula. Eles perceberam que não somente
diminuíram os conflitos, mas passou a haver mais diálogo, progresso nas
atividades pedagógicas e mais apreço pelas aulas. Os formadores vivenciam essa
atmosfera de valores com o grupo durante todo o processo. O módulo consciência
de valores é o mais propício à essa experiência. A avaliação dos educadores da
escola em questão atestou a efetividade da vivência desses sentimentos para uma
atmosfera frutífera para a educação e bons relacionamentos.
No que concerne ao módulo
Escuta ativa, a avaliação não foi
menos relevante. Escutar e entender a mensagem de quem compartilha,
compreendê-la com o coração e com compaixão, independentemente de concordar ou
não com o que expressa e sente o emissor, parece ser algo raramente possível
para a maioria de nós. A atmosfera de valores proposta pelo VIVE tece muitas
possibilidades, quer durante a formação para educadores, quer no processo
cotidiano de sala de aula, enquanto se pratica atividades com valores. As
discussões, o compartilhar de experiências, as vivências e os exercícios
oferecidos nessa sessão, propõem aos educadores possibilidades e exercícios de
escuta que raramente lhes são proporcionados ou estão ausentes de suas práticas
pessoais de solitude, introspecção etc.
A escuta é muito mais que
decodificar a mensagem verbal de quem fala. É praticar a flexibilidade, a
aceitação e o reconhecimento. Para Tillman e Colomina (2004, p. 109) a
aceitação e o reconhecimento das respostas dos estudantes é um componente
essencial de muitas discussões que são feitas como parte das atividades com
valores. Isso conduz a professores e estudantes a irem além de respostas certas
e erradas e aceitar e entender o sentimento de quem fala, o que proporciona aos
estudantes a tomarem a direção de percepções, emoções e comportamentos mais
positivos e saudáveis.
Freire (1996, p. 119-120)
deu atenção especial à escuta na prática educacional. Ele ressalta que escutar
é algo que vai além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar significa a
disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para abertura à fala
do outro, ao gosto do outro, às diferenças do outro, sem que se exija de quem
realmente escuta sua redução ao outro que fala.
A escuta abre
possibilidades para o entendimento, a apreciação, a descoberta; para lapidar os
excessos e processar o que nos é supérfluo e incômodo. Da mesma forma, podemos
entender o outro. O resultado é uma atmosfera de valores cuja energia é o
diálogo, a aceitação, o respeito etc. A prática da escuta é de importância
seminal para superar conflitos. Ao escutar o outro com o coração, entendendo os
seus sentimentos, estamos abertos para a humildade, o perdão, a paciência.
Os benefícios de uma
escuta verdadeira, mesmo que parcial, durante a formação, foi algo real e
proporcionou ao grupo de educadores reflexões sobre sua prática cotidiana de
ser humano, de educador, e em relação consigo, com o outro e, sobretudo com
seus alunos.
Considerações finais
Ao término da formação observamos
um fortalecimento nos propósitos da instituição e do grupo de professores no
que concerne à política pedagógica em prática na escola. Os professores
sentiram-se à vontade para socializar
os sentimentos de conquistas nas diversas metodologias aplicadas e nas
temáticas inovadoras do curso, até então desconhecidas pela grande maioria do
grupo.
Para alguns o aprendizado
maior foi através da escuta ativa, para outros a mediação de conflitos e ainda
pelo estabelecimento de regras para uma sala de aula cooperativa, de forma que
todos apontaram a formação como de grande relevância para o engrandecimento
pessoal e profissional de cada um em particular e da educação como um todo.
Um
ponto marcante que apreciamos e observamos na avaliação final, foi a melhoria da
autoestima dos professores. No decorrer do curso os mesmos foram mudando seus posicionamentos,
assumindo seus aprendizados, socializando aplicações de atividades em suas salas de aula,
enfatizando o diferencial das metodologias dos trabalhos em grupo, como
alternativas inovadoras para serem desenvolvidas na escola.
Outro
ponto observado foi a carência de
formação continuada para os professores em evidência, uma vez que os mesmos
trabalham em unidades prisionais que requerem uma atenção diferenciada da
escola formal regular. No decorrer dos diálogos traçados durante o curso,
sentimos a necessidade de um olhar mais focado para os professores por parte da
Secretária Estadual de Educação, de um acompanhamento psicológico
individualizado e em grupo.
Enfim, ficou uma sensação
de falta de cuidado com os professores que carecem de serem escutados, de serem
atendidos em suas especificidades psicopedagógicas e trabalhistas, já que a
grande maioria é de professores terceirizados, que além das peculiaridades
negativas advindas das unidades prisionais, ficam à mercê da descontinuidade de
permanência nas referidas unidades de trabalho.
A avaliação da gestão da escola,
após um período de quase um ano (outubro de 2013 a setembro de 2014) de
reflexões e práticas pedagógicas fundamentadas em valores sob a perspectiva do
VIVE é positiva. A instituição avalia como progressiva a capacidade que
atualmente apresenta em mediar, com pacificidade, diálogo e compreensão, os
conflitos que emergem da interação entre os seus educadores, educandos e
agentes penitenciários, procurando tornar predominantemente pedagógicas as
relações entre todos.
A natureza da escola (que
atende diferentes unidades prisionais em vários municípios) e a rotatividade
dos professores apresentam-se como alguns empecilhos para uma atividade
constante e cotidiana. Contudo, há por parte da gestão o compromisso com uma
educação humanizada.
Como citado na
introdução, o curso é parte da formação continuada dos professores da escola.
No planejamento das ações estão inclusas ações de suporte e acompanhamento com
palestras, oficinas e vivências, bem como algumas atividades desenvolvidas em
sala de aula com os estudantes. Contudo, vale salientar que é imperativo que os
próprios educadores desenvolvam atividades com seus estudantes, com frequência.
Acreditamos que eles, ao desenvolverem essas atividades de forma constante,
consistente e cotidiana, através das oficinas propostas pelo material didático do VIVE, atividades criadas
por eles mesmos e estudantes; assim como a prática do reconhecimento, incentivo
e construção de comportamentos positivos, a resolução de conflitos com valores
e o lidar com a disciplina objetivando vivenciar valores e não o controle e a
punição nas práticas cotidianas de sala de aula, eles estarão criando um ambiente de vivência de valores.
Por ocasião da visita de
formadores do VIVE para uma oficina na Unidade Prisional Instituto Penal
Professor Olavo Oliveira II, para 43 estudantes jovens e adultos, percebeu-se
que os professores que ali trabalham têm uma prática educacional humanizada. A
interação com os estudantes, os sentimentos de gratidão que estes expressavam e
suas interações durante a atividade atestaram isso. Ainda que vivam privados de
sua liberdade, em uma sala de aula no seio de uma prisão, apresentando pontos
de vista antagônicos no que tange ao direcionamento pedagógico entre
professores e agentes prisionais, eles demostraram uma vontade genuína de
aprender, de relacionar-se com amizade e respeito e de querer aprender e
vivenciar seus valores e compartilhá-los com os demais.
Contudo, cremos que o
planejamento da gestão da escola objetivando uma formação continuada em
educação e valores humanos pode vir a envolver todos os educadores, todas as
salas de aulas em todas as unidades prisionais. Essa possibilidade certamente
trará, mais do que uma formação pedagógica, o cuidar do processo cognitivo dos
estudantes. Trará também uma relação mais humanizada e respeitosa de seres que
vivem em um espaço passível de muitas formas de cerceamento: físico, emocional,
social, cognitivo etc. A educação baseada em valores certamente contribuirá
para que os estudantes tenham a liberdade de viver sentimentos de aceitação,
momentos de interações positivas e esperanças e sonhos de uma vida melhor
durante o tempo que passarão na unidade prisional, sobretudo no tempo que estão
em sala de aula com seus colegas e educadores.
Referências
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BARREIRA, Lilia Cristian. Princípios
para um mundo sustentável: a educação fundamentada em valores. In: MATOS, Kelma S. L. (Org.). Cultura
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BARROS. Paulo Sérgio. Vivendo Valores na Educação: a
experiência da dimensão afetiva do indivíduo na sala de aula. In: Revista E.T.C Educação,
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_____________. Educação, cidadania e espiritualidade: uma
experiência no cotidiano da sala de aula.
In: BARROS, Paulo Sérgio; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos
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experiência na Escola Maria José Medeiros em Fortaleza. In: SANTOS. Francisco
Kennedy Silva dos (Org.). II Colóquio Abrindo trilhas para os Saberes: Formação
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_____________. Atmosfera de Valores: o princípio do
Programa Vivendo Valores na Educação. IN:
MATOS, Kelma S. L.; NONATO JÚNIOR, Raimundo (Orgs.). Cultura de Paz, ética e
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
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KUMARIS, Brahma. Vivendo nossos valores: uma abordagem “de dentro para fora” para
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PEREIRA, Osivânia Maria. Q. Vivenciando valores na sala de aula: uma
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TILLMAN, Diane; COLOMINA, Pilar. Quera. Guia
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___________. TILLMAN, Diane. Theorical Background and Support for Living Values: An Educational Program. Disponível em: <http://www.livingvalues.net/pdf/lvTheoricalBackgoundandSupport.pdf>.
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YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
[1] Artigo
publicado em: MATOS, Kelma Socorro Lopes de (Org.). Cultura de paz, educação e
espiritualidade. Fortaleza: edições UFC, 2015.
[2] Os
autores do artigo são professores da Secretaria de Educação do Ceará e
voluntários do Programa VIVE.
[3] O VIVE foi
desenvolvido em consultoria com o Clausto de Educação do UNICEF
e Organização Brahma Kumaris, em 1996. É coordenado pela Association
for Living Values International – ALIVE, apoiado pela UNESCO e por uma
variedade de organizações, instituições e indivíduos em mais de 60 países.
Visite: www.livingvalues.net.
[4] O
VIVE também desenvolve atividades para crianças e jovens em situação de risco: Vivendo
valores para refugiados e afetados por guerra, Vivendo valores para crianças de
rua, Vivendo valores para reabilitação do uso de drogas e Vivendo valores para
jovens delinquentes. Há também Vivendo valores para pais e cuidadores e Vivendo
valores verdes, uma série de material com atividades para educação ambiental e
sustentabilidade.